04 out Endometriose
O tecido normal que reveste o interior do útero e que sangra durante o período menstrual é chamado de endométrio.
Endometriose é uma doença benigna em que um tecido semelhante ao endométrio se desenvolve fora da cavidade uterina. Tipicamente essa doença ocorre na pelve, mas pode ocorrer em qualquer parte do corpo. As localizações mais comuns da endometriose são a superfície externa dos ovários, a reflexão peritonial anterior (tecido localizado entre o útero e a bexiga), as estruturas atrás do útero (ligamentos útero-sacrais, tórus uterino, região retrocervical), o útero, as trompas, a vagina, o intestino e a bexiga.
TIPOS DE ENDOMETRIOSE
Na realidade existem várias manifestações diferentes da doença. Podemos dividir a endometriose em 4 apresentações clínicas, que podem aparecer isoladamente ou simultaneamente:
- Endometriose superficial – são lesões que não infiltram mais do que 5mm abaixo da superfície do peritônio (camada que reveste internamente o abdome e que recobre vários órgãos).
- Endometrioma ovariano – são lesões que infiltram o ovário e que formam cistos com conteúdo sanguinolento. Como são lesões crônicas nos ovários, o sangue contido no seu interior é um sangue antigo, que tem o aspecto “achocolatado”quando o endometrioma é esvaziado em um procedimento cirúrgico laparoscópico.
- Adenomiose – são focos de endometriose localizados no interior do miométrio (fibras do músculo uterino); ou seja, é a forma de endometriose acometendo o útero.
- Endometriose profunda – são lesões que infiltram mais do que 5mm abaixo da superfície do peritônio. Essas lesões podem infiltrar os órgãos nas proximidades, principalmente a bexiga, a vagina, o ureter e o intestino. Trata-se da forma mais agressiva da doença, cujo tratamento cirúrgico é complexo e é melhor conduzido por equipes multidisciplinares.
DIAGNÓSTICO POR IMAGEM
As pacientes com clínica suspeita para endometriose pélvica devem ser investigadas por métodos de diagnóstico por imagem como a ultrassonografia com Dopplerfluxometria e a Ressonância Magnética (“mapeamento para endometriose”)
É importante lembrar que nem todas as formas de endometriose podem ser visualizadas nos exames de imagem (lesões de endometriose superficial NÃO são visualizadas); por isto o exame normal não exclui a presença de endometriose pélvica!
O que procuramos no mapeamento pré-operatório para endometriose ?
- Endometriomas ovarianos.
- Lesões profundas de endometriose.
- Sinais indiretos de aderências.
- Patologias associadas (adenomiose, leiomiomas, hidrossalpinge, etc.).
SINTOMAS SUGESTIVOS DA DOENÇA
Os sintomas que são sugestivos de endometriose são:
- Dismenorréia – cólica no período menstrual.
- Dispareunia de profundidade – dor durante a relação sexual.
- Dor pélvica não cíclica – dor não relacionada ao período menstrual.
- Sintomas intestinais cíclicos – sintomas que aparecem no período menstrual, como diarréia ou intestino preso, urgência para evacuar, cólicas intestinais, dor em região anal, sangramento nas fezes, dentre outros.
- Sintomas urinários cíclicos – sintomas que aparecem no período menstrual, como aumento da freqüência urinária, dor ao urinar, sangramento na urina
Infertilidade.
É importante lembrar que nem toda mulher que tem um dos sintomas acima é necessariamente portadora de endometriose. Esses são sintomas que PODEM ser ou não da doença. No entanto, todas as mulheres que têm algum dos sintomas supra-citados muito intensos devem passar por uma avaliação ginecológica e por uma investigação aprofundada para se excluir a presença de endometriose.
MAPEAMENTO PARA ENDOMETRIOSE POR ULTRASSONOGRAFIA COM DOPPLERFLUXOMETRIA
O mapeamento de endometriose por ultra-sonografia inclui um exame por via transvaginal, com avaliação do fluxo ovariano (doppler) e a avaliação por via abdominal. O exame abdominal deve pesquisar implantes de endometriose na parede abdominal, assim como lesões acometendo íleo terminal, apêndice, ceco e sigmóide . No caso de lesões volumosas retrocervicais deve verificar também a presença ou não de dilatação das vias excretoras renais . O exame transvaginal com doppler identifica alterações uterinas (adenomiose), ovarianas (endometriomas) e os implantes profundos de endometriose no compartimento pélvico anterior (entre a bexiga e o útero) e posterior (entre o útero e o intestino), bem como sinais indiretos aderenciais. No caso de acometimento intestinal, a ultra-sonografia permite a avaliação da camada da parede intestinal que está infiltrada pela doença, bem como a distância da margem anal , a circunferência e extensão do segmento envolvido , o que tem importância no momento do planejamento do tipo de cirurgia a ser realizado.
Por que fazer ultrassonografia para endometriose pélvica?
Para a pesquisa de implantes endometrióticos profundos, endometriomas, sinais indiretos de aderência e patologias associadas.
- Programação cirúrgica.
MAPEAMENTO PARA ENDOMETRIOSE POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
Este exame é realizado após a injeção de gel no interior da vagina e do reto para que se obtenha uma melhor definição anatômica e das lesões.
Por que fazer a Ressonância Magnética na endometriose pélvica ?
- Melhor definição anatômica da pelve feminina.
- Diferenciação dos cistos ovarianos com conteúdo espesso ao ultra-som.
- Melhor caracterização do processo aderencial intenso.
- Maior sensibilidade para o diagnóstico da adenomiose.
O QUE PESQUISAMOS NO MAPEAMENTO PARA ENDOMETRIOSE?
ENDOMETRIOMAS OVARIANOS
IMPLANTES ENDOMETRIÓTICOS PROFUNDOS
Para se conhecer o padrão da imagem, deve-se compreender a fisiopatologia da doença.
LESÕES ENDOMETRIÓTICAS PROFUNDAS NO COMPARTIMENTO ANTERIOR
LESÕES ENDOMETRIÓTICAS PROFUNDAS NO COMPARTIMENTO POSTERIOR
ANATOMIA DA PAREDE INTESTINAL AO US
IMPLANTE ENDOMETRIÓTICO INTESTINAL – O QUE PESQUISAR?
- Número e extensão das lesões
- Distância das lesões com o rebordo anal
- Camada da parede intestinal infiltrada
- % circunferência da alça envolvida
OUTROS SÍTIOS
- APÊNDICE CECAL
- URETER
ADERÊNCIAS – SINAIS INDIRETOS
- Útero com retroflexão fúndica
- Elevação do fórnice posterior da vagina
- Ovários medializados e acolados à superfície uterina
- Hidrossalpinge e cistos de inclusão peritoneal
- Líquido bloqueado no FSP
- Angulações de alças intestinais
PATOLOGIAS ASSOCIADAS – ADENOMIOSE UTERINA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- Valorizar a clínica e correlacionar com os achados de imagem.
- IEP- Multifocal – A EPI tem um padrão de distribuição multifocal, o que tem importância fundamental quando se define o tratamento cirúrgico completo da doença (Kondo W, Ribeiro R, Trippia C, Zomer MT. Deep infiltrating endometriosis: anatomical distribution and surgical treatment. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012 Jun;34(6):278-84).
- Mulheres com endometrioma ovariano apresentaram um Ca-125 sérico mais alto (39,5 vs. 24,1U/ml; p=0,003) e uma maior associação com a presença de lesões de EPI (98,2% vs. 86,2%; p=0,01) e de EPI intestinal (57,1% vs. 37,9%;p=0,01) (Kondo W, Ribeiro R, Trippia CH, Zomer MT. Association between ovarian endometrioma and deep infiltrating endometriosis. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; in press).
- Lesões endometrióticas profundas do compartimento posterior são mais freqüentes que no compartimento anterior da pelve, e com freqüência acometem o intestino (retossigmóide) (Kondo W, Ribeiro R, Trippia CH, Zomer MT. Association between ovarian endometrioma and deep infiltrating endometriosis. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; in press).
- Pesquisar sinais indiretos de aderências e patologias associadas.
- Ca 125 aumentado – possibilidade de endometriose.
- Cuidado com a possibilidade de diferentes sítios (“bizarros”).
- Exame normal não exclui a possibilidade de endometriose.
- Diagnóstico difícil sobretudo quando o realizador do exame não conhece o padrão das lesões.
ORIENTAÇÕES AOS PACIENTES PARA REALIZAÇÃO DO EXAME DE MAPEAMENTO PARA ENDOMETRIOSE
- Phosfoenema 130 ml : Aplique um frasco por via retal (conforme instruções da bula) uma hora e meia antes do exame.
- Minilax: Aplique duas bisnagas por via retal uma hora antes do exame.
- Dieta leve no dia que precede o exame.
ESCLARECIMENTOS AOS PACIENTES
- Os pacientes deverão comparecer ao exame com 10 minutos de antecedência.
- Trazer os exames anteriores (ecografia , tomografia ou ressonância magnética do abdômen e pelve , bem como os Ca 125 ), caso tenham sido feitos.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Para maiores informações:
- Kondo W, Ribeiro R, Trippia CH, Zomer MT. Association between ovarian endometrioma and deep infiltrating endometriosis. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; in press
- Kondo W, Ribeiro R, Trippia C, Zomer MT. Deep infiltrating endometriosis: anatomical distribution and surgical treatment. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012 Jun;34(6):278-84
- Kondo W, Bourdel N, Zomer MT, Slim K, Botchorishvili R, Rabischong B, Mage G, Canis M. Surgery for deep infiltrating endometriosis. Technique and rationale. Frontiers in Bioscience 2012; in press.
- Kondo W, Branco AW, Branco Filho AJ, Stunitz LC, Neto SRN, Zomer MT. How do I treat the ureter in deep infiltrating endometriosis by laparoscopy? Bras J Video-Sur. 2011;4(4):181-97.
- Kondo W, Zomer MT, Pinto EP, Ribeiro R, Ribeiro MFC, Trippia CR, Trippia CH. Deep infiltrating endometriosis: imaging features and laparoscopic correlation. Journal of Endometriosis. 2011;3(4):197-212.
- Carlos H. Trippia, Monica T. Zomer, Carlos R.T. Terazaki, Rafael L.S. Martin,Reitan Ribeiro and William Kondo. Relevance of Imaging Examinations in the Surgical Planning of Patients with Bowel Endometriosis. Clinical Medicine Insights: Reproductive Healt ,2016:10 1–8 doi:10.4137/CMRH.S29472.
- Kondo W, Bourdel N, Zomer MT, Slim K, Rabischong B, Pouly JL, Mage G, Canis M. Laparoscopic cystectomy for ovarian endometrioma – A simple stripping technique should not be used. Journal of Endometriosis.2011;3(3):125-34.
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- Kondo W, Zomer MT, Charles L, Canis M. Surgical Treatment of Deep Endometriosis by Laparoscopy. In: Laparoscopy: New Developments, Procedures and Risks (ISBN 978-1-61470-747-9), in press.